literature

AMOR DE CORPO E ALMA

Deviation Actions

danilomarques's avatar
Published:
856 Views

Literature Text

INTRODUÇÃO
O Romance Espírita não está limitado a Romance Mediúnico. Este último é que faz parte daquele primeiro. Claro que a maior parte é mediúnico, mas há de se separar um romance elaborado sobre temas espíritas como reencarnação, alma-gêmea, mediunidade, karma, etc. e aqueles trazidos por um espírito evoluído a um ser humano receptivo à sua mensagem, o que não é o caso desta edição. O romance espírita apresenta características literárias que possibilitam transmitir um conteúdo moral, evangélico, educacional, instrutivo e/ou de entretenimento, por meio de um enredo que envolve o leitor, prendendo-o à trama dos personagens e das circunstâncias criadas pelo autor. O romance espírita cumpre seu papel quando sua essência nos proporciona normas sadias de conduta. Levarei  você a um dia na vida de Suzana, uma garota de 18 anos, estudante do segundo ano de artes plásticas numa universidade conceituada, resultado de grandioso esforço que fez estudando com afinco. Faz estágio num estúdio de restauração de antiguidades, mora num bairro humilde, não pode colaborar com o orçamento doméstico com seu pequeno salário de estagiária devido ao alto valor dos livros que o curso exige. Há um ano e seis meses está vivendo uma avassaladora paixão com seu namorado Jair. Ele é o homem dos seus sonhos, do jeitinho que ela sonhava desde que, quando criança brincava sozinha com suas reinações e brinquedos, vestindo as roupas da mãe e se maquiando, dizendo a todos que tinha um encontro com um Príncipe que viria busca-la.
Enfim, Suzana é muito feliz, e através deste episódio de sua vida acompanharemos sua felicidade ser coroada de uma maneira jamais sonhada.
Boa leitura!

I
UM GRANDE AMOR
As Luzes multicoloridas dos canhões girando, os raios piscando e a música intensa servem apenas de pano de fundo para o amor tórrido de Suzana e Jair.Ambos estão entregues à paixão e ao desejo de estarem a cada dia se amando mais. Nada existe à sua volta, o céu não é o limite e o chão não está debaixo de seus pés. No mundo, se é que este importa, só há os dois, e não estão interessados que mais nenhum habitante apareça, a não ser, claro, os três filhos que eles já planejaram ter logo após o casamento na Catedral da cidade, cuja cerimônia já está marcada e paga, fruto de uma poupança que começaram a fazer desde que decidiram firmar compromisso. Seus três futuros filhos já têm até nomes, e tudo o que acontece em suas vidas conspira para que todas as coisas dêem certas.
Eles se amam, muito, se existe amor maior que este entre seres humanos não foi até agora registrado nas páginas do tempo e do espaço. O beijo é como uma troca de corpos, onde a alma de um se envolve no corpo de outro e vice-versa. O abraço é como a chama de uma fogueira de bem querer com sede de amor e fome de vida que parece que ambos estão cobertos por uma só pele. É nítido que este é o maior amor existente na face da Terra desde que Deus teve um remoto pensamento de criar algo no infinito.
Suzana é a mulher mais feliz do mundo, e Jair, o homem mais feliz em dobro, por ter Suzana em seus braços e poder olhar aqueles olhos azuis olhando com desejo. Para ele. Imagine como se sente o homem que é fitado por olhos desejosos, brilhando para ele, faiscando de amor e não enxergando nada além do felizardo eleito... Conhece um amor maior? Creio que somente na nossa fértil e triste imaginação, onde podemos ser e ter aquilo que bem quisermos. Mas este é real.
Depois de dançarem e namorarem muito, Jair leva Suzana para casa despedindo-se demoradamente, ansiosos pelo dia em que não precisarão mais cada um ir para sua casa.

II
SERIA MAIS UM DIA QUALQUER EM SUA VIDA SE...
O despertador toca estridente rompendo um dos seus costumeiros lindos sonhos, fazendo-a resmungar e balbuciar algumas palavras incompreensíveis e virar-se para o outro lado da cama. Mas aquele som não pára e corta de vez o seu sono deixando-a desesperada para desligar aquele aparelho inconveniente. Uma gostosa espreguiçada e um bocejo sem culpa a fazem despertar e dispor-se a levantar da cama. Este é mais um dia na vida deliciosamente agitada de Suzana, a higiene, o banho, a maquiagem, o perfume, o café da manhã, o beijo de despedida no rosto da mãe amorosa, tudo na sua vida torna-se mais bonito devido àquela meiguice toda, aquela feminilidade e delicadeza surpreendente, e aqueles dois olhos de um azul mar grego incomparável.
Ela caminha pela rua e não há como não nota-la, não só por sua beleza e seu perfume, mas por que diante de toda a situação que o mundo atravessa ela ergue a cabeça e caminha elegantemente com um leve sorriso a adornar seu rosto, dando-lhe a simpatia e a carisma que é inevitável à pessoa que sorri sempre.
No ônibus ela olha pela janela e gosta de ver a paisagem urbana passar enquanto pensa em seu príncipe, esperando ansiosa que o dia passe correndo e ela possa encontra-lo na faculdade.
Enfim chega ao seu destino, o atelier Renascense. Cumprimentando a todos, ela se senta diante da bancada e começa seu trabalho de onde havia parado ontem... trata-se de uma relíquia do período colonial brasileiro, um vaso de porcelana com motivos barrocos pintados com uma tinta especial que o atelier ainda não descobriu sua composição, além de detalhes feitos a ouro soprado, vale uma fortuna. Como grande amante das artes, Suzana faz como em todas as peças que restaura... olha para ela e sonha, e viaja em pensamentos imaginando quem em que época e em que ocasião tocou naquele vaso, que sala ele decorava, da casa de quem, que histórias fascinantes este objeto teria para contar caso pudesse falar... Neste objeto em especial o deslumbre levou Suzana a pensar tão forte que sua grande sensibilidade deu oportunidade a uma coisa fascinante e inacreditável para a maioria de nós entender... O magnífico vaso tremia parecendo querer saltar das mãos delicadas de Suzana, o que a fez segurar com muita firmeza sobre a mesa. Nisto, ele conduziu as mãos de Suzana em movimentos a princípio incompreendidos. Todos os seus colegas pararam seus afazeres e atônitos olhavam para o que estava acontecendo até que o vaso parou. Ela estava muito assustada, ofegante, tocou no vaso. Parecia que quem ou o que tinha feito aquilo não estava mais ali.
- Suzie, olhe na mesa ! - falou a moça que burilava uma ânfora
de bronze. Ao olhar, Suzana que já estava assustada ficou entre a incompreenção, o medo do desconhecido e a curiosidade. Ali, entre o pó de tinta descascada, fragmentos de metal e massa, limalhas de ferro e serragem o vaso abriu caminhos vasados formando a frase : « Estás pronta, Shoshannah, é tempo de amor ! » - Olhares espantados inquiriam Suzana a respeito do estranho fenômeno, mas ela também não fazia idéia de que algo desse tipo realmente acontecia.

III
EM BUSCA DE RESPOSTAS
A melhor coisa a fazer – pensou Suzana – seria tirar uma foto com sua máquina instantânea que, embora de baixa renda, Suzana era obrigada a ter, instrumento de trabalho necessário para uma estudante de artes Plásticas. Ela tirou várias fotos. A etapa seguinte seria procurar ajuda de algum especialista em fenômenos paranormais, talvez um perito em parapsicologia, talvez um conhecedor de ciências ocultas, Suzana conjeturou por alguns instantes até que Valda se ofereceu para acompanhá-la ao Centro Espírita que freqüentava e consultar o Dr. Adalto, médium e grande estudioso espírita, pois ela tinha absoluta certeza que se tratava de algum espírito querendo transmitir alguma mensagem à amiga. Suzana aceitou o convite e ambas foram mostrar as fotos ao médium. A dona do atelier dispensou as duas, pois como todo o pessoal do Atelier Renascence ela estava curiosíssima em saber o significado daquele fantástico ocorrido.
No caminho resolveu ligar para Jair e avisar que não iria à faculdade à tarde:
- Oi, amor! Como você está? Olha, não vou à facu hoje, tá? Tenho que resolver uma coisa! Você nem imagina, algo fantástico aconteceu comigo hoje, quando eu te contar você não vai acreditar! À noite a gente se vê, te amo, viu! Beijos!
A euforia de Suzana era tanta que nem deixou o namorado falar. Entraram depois numa loja para revelar as fotos e depois de esperarem um bom tempo estavam a caminho do Centro Espírita.
Chegando ali, muita gente esperava para falar com o Dr. Adalto... Jovens, crianças, idosos, mães com filhos, filhos com mães, casais, etc. As pessoas entravam, permaneciam algum tempo, umas saiam logo outras demoravam um pouco, mas todas saiam satisfeitas e com um semblante otimista e renovado. Até que chegou a vez de Suzana. Entrando na sala ficou encantada com a decoração. Era um escritório todo ornado com peças artísticas como as que costumava restaurar, além de uma estante com muitos livros antiqüíssimos e alguns quadros na parede. Suzana pôde reconhecer o de Cristo, o de Alan Kardec, mas não sabia de quem se tratava um terceiro retrato. Percebendo que aqueles olhos azuis curiosos perguntavam por si, o mediu disse:
- Este é Emmanuel, era o Senador Romano Púbio Lentulus Cornelius, desencarnou, veio novamente como o Padre Manuel da Nóbrega. Após uma vida de amor e atenção ao próximo desencarnou novamente e hoje é nosso grande auxiliar, inclusive trazendo até mim as mensagens necessárias aos corações carentes. Como se chamam?
- Eu sou Valda, freqüento este centro espírita há algum tempo, trouxe minha amiga Suzana para mostrar-lhe uma coisa que aconteceu no atelier onde trabalhamos.
- De que se trata? – perguntou o Dr.
- O senhor pode olhar isto? – Suzana lhe estendeu as fotos.
- Que maravilha! – Exclamou o Dr. Adalto – Você deve ser uma pessoa muito especial, Suzana! E nosso amigo espiritual que te visitou pela manhã quis dizer a você que chegou a hora de perceber isto!
- Como assim, Dr?
- Um amigo nosso, que eu ainda não sei quem é, pegou na sua mão pela manhã e a conduziu escrevendo esta mensagem: « Estás pronta, Shoshannah, é tempo de amor ! » Quando um espírito chama a pessoa pelo nome é porque o nome dessa pessoa não foi escolhido a esmo pelos pais, mas escrito no mundo espiritual como uma espécie de presente. O nome tem significado, muitas vezes este significado não nos serve muito, outras vezes ele é tudo, ele vai determinar a linha que seguiremos na vida. O espírito não só te chamou pelo nome como usou o nome original Shoshannah, de origem hebraica, que ao pé da letra significa lírio gracioso, e é usado para dizer que a portadora do nome é pura !
- Nossa! Que legal, mas e o que a mensagem significa?
- Significa que você já venceu as etapas que deveria vencer, já cumpriu as tarefas necessárias para agora conhecer o amor!
Suzana riu. O médico não gostou muito, achando que ela estava debochando, mas na sua calma e carinho com as pessoas disse:
- Talvez você tenha um namorado que é tudo na sua vida, seu príncipe encantado, seu cavaleiro andante, mas há alguém muito especial que nasceu para te completar. E este alguém também venceu as devidas etapas para recebê-la, do contrário o espírito não traria esta mensagem hoje. Provavelmente ele também já recebeu a mesma mensagem, e se aconteceu no atelier era para que Valda a trouxesse até mim. Nada é por acaso, tudo já foi escrito antes de nós e agora devemos aguardar, pois com certeza o espírito também conduzirá sua metade até mim.
- Como o senhor fala todas essas coisas sem psicografar, Dr? Pensei que precisasse que um amigo espiritual viesse dizer! – indagou Valda.
- A experiência que tenho com certos assuntos é vasta, minha cara Valda, nome de origem teutônica que significa Guia, é um privilégio muito grande você fazer parte deste acontecimento na vida da tua amiga. Hoje é um dia diferente de todos os dias costumeiros, foi me dada uma honra, e vamos aguardar. As pessoas que estão aguardando lá fora serão atendidas por nossos voluntários e tarefeiros, enquanto nós vamos festejar um grande encontro! Eu, Adalto, latim, que significa para o alto, em sentido espiritual, estou muito feliz!
- Doutor, o senhor falou sobre... Alma gêmea? Como assim? E meu namorado? Eu o amo! – Falou Suzana.
- Com certeza você o ama, está em seus olhos, mas vou contar uma coisa a vocês... Os espíritos não são, como se imagina, seres à parte na criação; são as almas daqueles que viveram sobre a Terra ou em outros mundos. Geralmente, se faz uma idéia muito falsa do estado dos espíritos; eles não são, como alguns o crêem, seres vagos e indefinidos, nem fantasmas como nos contos de assombração. São seres semelhantes a nós, tendo um corpo igual ao nosso, mas fluídico e invisível no estado normal. Quando a alma está unida ao corpo, durante a vida, ela tem duplo envoltório: um pesado, grosseiro e destrutível, que é o corpo; outro fluídico, leve e indestrutível, chamado perispírito. O perispírito é o laço que une a alma e o corpo; é por seu intermédio que a alma faz o corpo agir, e percebe as sensações experimentadas pelo corpo. A união da alma, do perispírito e do corpo material constitui o homem; a alma e o perispírito separados do corpo constituem o ser chamado Espírito. A morte é a destruição do envoltório corporal; a alma abandona esse envoltório como troca a roupa usada, ou como a borboleta deixa sua crisálida; mas conserva seu corpo fluídico ou perispírito. A morte do corpo livra o Espírito do envoltório que o prendia à Terra e o fazia sofrer; uma vez livre, não tem senão seu corpo etéreo que lhe permite percorrer o espaço e vencer as distâncias com a rapidez do pensamento. Os espíritos povoam o espaço; eles constituem o mundo invisível que nos rodeia, no meio do qual vivemos, e com o qual estamos, sem cessar, em contato.  Os espíritos têm todas as percepções que tinham na Terra, mas num mais alto grau, porque suas faculdades não estão mais amortecidas pela matéria; têm sensações que nos são desconhecidas; vêem e ouvem coisas que nossos sentidos limitados não nos permitem nem ver e nem ouvir. Para eles não há obscuridade, salvo para aqueles cuja punição é estar temporariamente nas trevas. Todos os nossos pensamentos repercutem neles, que os lêem como em um livro aberto; de sorte que aquilo que podemos ocultar a alguém vivo, não poderemos ocultar de um espírito. Os Espíritos conservam as afeições sérias que tiveram na Terra; eles se comprazem em voltar para junto daqueles que amaram, sobretudo, quando são atraídos por pensamentos e sentimentos afetuosos que lhes dirigem, ao passo que são indiferentes para com aqueles que não lhes têm senão a indiferença. Os Espíritos podem se manifestar de maneiras bem diferentes: pela visão, pela audição pelo toque, pelos ruídos, pelos movimentos dos corpos, pela escrita, pelo desenho, pela música, etc. Eles se manifestam por intermédio de pessoas dotadas de uma aptidão especial para cada gênero de manifestação, e que se distinguem sob o nome de médiuns. É assim que se distinguem os médiuns videntes, falantes, audientes, sensitivos, de efeitos físicos, desenhistas, tiptólogos, escreventes, etc. Entre os médiuns escreventes, há numerosas variedades, segundo a natureza das comunicações que estão aptos a receber. E você, minha cara, foi presenteada nesta manhã com o fato de ser uma médium escrevente.
- Mas e a alma gêmea? – perguntou Suzana.
- Quando um espírito desencarna, ele se torna assexuado, nem homem, nem mulher. E caso venha a reencarnar, pode vir na forma de qualquer um dos dois sexos, pois a reencarnação é o aprimoramento do espírito na Terra, e deve experimentar ambas as formas de existência para que aprenda cada vez mais. A Doutrina Espírita, segundo o “Livro dos Espíritos” de Alan Kardec não defende o conceito de alma gêmea, mas outras vertentes do Espiritismo declaram que um espírito ao desencarnar pode fazer-se em mais de um, e no ato da reencarnação eles reencarnam separadamente, e agora são almas gêmeas, pois um dia foram um. Caso se encontrem viverão um grande amor; como podem vir no mesmo sexo e se tornarem grandes amigos.
- Quer dizer que em algum lugar, o espírito que falou comigo falou com minha alma gêmea?
- Exatamente!
- Mas eu não quero deixar meu Jair! Somos obrigados a aceitar a alma gêmea?
- Olha, Suzana... Quando uma alma gêmea se depara com a outra, nada se coloca na frente. Quando você estiver diante dessa pessoa, tudo vai mudar.
E os três conversaram mais uma hora sobre muitas coisas até que alguém bateu na porta...
- Esperem um instante, deve ser nosso esperado. – disse o doutor abrindo a porta e falando com a pessoa ali mesmo, sem deixar que as meninas o vissem.
- Boa tarde, Desculpe-me aparecer assim, mas hoje pela manhã eu estava terminando uma tela a pedido da faculdade de Artes Plásticas onde estudo, e aconteceu que senti umas sensações que nunca tinha sentido e uma vontade incontrolável de borrocar todo aquele quadro que estava quase pronto. Quando dei por mim já havia acontecido e o resultado foi este. Veja o senhor mesmo.
O médium pegou a tela, era a imagem do Centro Espírita onde eles estavam, ao lado, um relógio indicando esta mesma hora em que se encontravam ali, e num canto, a mensagem:  « Estás pronto, Jair, é tempo de amor ! » O médico sorriu, virou-se para Suzana e disse :
- Já entendi, querida, esse enorme amor que sente pelo seu namorado ! Eis sua alma gêmea !
Abriu a porta e deixou Suzana ver seu querido Jair em pé na porta. Correu para seus braços e o beijou intensamente, chorando de um misto de euforia, alegria e alívio.
- Sabe o que significa Jair, Suzana ? – perguntou o doutor – Um nome hebraico como o teu, e quer dizer : O Iluminado de Deus ! Os espíritos de vez em quando fazem destas conosco, nos presenteando com nossos próprios seres amados, confirmando que o amor que sentimos além de mútuo é coroado no mundo espiritual !
        Sejam muito felizes !
FIM
Romance publicado pela Bonton Editora com o título de capa "Romances Espíritas" - 2006
© 2008 - 2024 danilomarques
Comments0
Join the community to add your comment. Already a deviant? Log In